Hoje é o último dia para visitar The Solo Project, feira que acontece em paralelo à gigante Art Basel. O jovem artista tunisiano baseado em Paris Haythem Zakaria apresenta quatro projetos no evento, em uma iniciativa do Coletivo Zamaken.
A série mais recente, “Desenho à metrônomo, protocolo I”, consiste em desenhos realizados com ponta tubular sobre papel algodão ao ritmo de um metrônomo de 400 batimentos por segundo. O ritmo intenso do dispositivo constrange o artista a refletir o menos possível sobre a composição e o coloca a serviço do tempo. O resultado são formas pontilhadas que parecem escoar da folha de papel, construindo um regime complexo no qual a densidade destes pontos no papel apresenta-se como viscosidade.
Os protocolos que Zakaria estabelece para orientar sua criação são, em grande medida, o que singulariza sua poética. Al Fatiha é uma impressão digital que apresenta pontos que, vistos de perto, revelam-se como milhares de letras do alfabeto arábico. Estas letras são combinações das letras que formam a Surata Al-Fatiha, conjunto de versos que abre o Corão, livro sagrado dos muçulmanos. Esta combinação é alcançada graças a um algoritmo desenvolvido exclusivamente com este propósito. A algorítmica de Haythem Zakaria, cuja genealogia remete à matemática de Leibniz, transcende o texto da Surat através de uma abstração levada ao extremo, que se inscreve nos limites da linguagem e do inteligível.
Este protocolo de tradução da linguagem inteligível em linguagem abstrata está já presente em ///..///../// (sobre esta obra de 2012, exposta na Friche la Belle de Mai, em Marseille, no início de 2015, escrevi um pouco aqui). Nela,a frequência do ruído branco de um espectro sonoro é impressa à laser em cubos de vidro. Esta frequência tem a particularidade de um prisma sonoro que reúne as frequências audíveis. O artista considera este edifício sonoro como a matriz do verbo e dá uma forma transparente e silenciosa pra ele.
O quarto projeto de Zakaria apresentado em The Solo Project chama-se “spectral” e faz parte da atual pesquisa do artista. O trabalho consiste em uma intervenção sobre uma mesa luminosa. A ideia é integrar a luz como matéria plástica na composição e, para isto, o artista sobrepõe papéis de engenheiro e folhas transparentes impressas. Novamente somos confrontados com densidades e viscosidades intrigantes.
The Solo Project acontece em Dreispitzhalle, Helsinki-Strasse 5, Münchenstein (Basel) Dreispitz-Areal, e pode ser visitada até as 19h de hoje.
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